Se Angola fossed deixada em “paz”, a História tinha seguido o seu curso e a tribo Umbundo teria reduzido os seus oponentes ao silêncio numa sangrenta guerra tribal e um “governo estável” existiria agora em Angola. Vimo isso acontecer na Nigéria, Tanzania, Kenia, Zaire, etc….

Uma vez mais o mundo achou que não deveria ser assim e 60.000 Cubanos foram mandados para Angola para suportar um governo minoritário e a lutar numa guerra perdida contra o povo Angolano.

Apesar do que se estava a passar durante a independência nós achámos que deveriamos ficar e ajudar a reconstrução do País.

Como disse antes, desde a minha primeira experiência de “lutar pela mãe pátria”, tornei-me muito desconfiado acerca dos políticos e suas intenções.

Quando Angola se tornou independente de Portugal os Angolanos começaram a alinhar-se com os novos partidos.

Ainda que melhor do que muitos dos paises de África, a sul do Sahara, com a excepção da África do Sul, uma grande precentagem de Angolanos são analfabetos ou só tem uma escolaridade primária básica.

Isso fez os priveligeados com uma educação superior, elementos chaves no processo de transição. Acima de tudo tendo sido um oficial do exército com experiência em combate fez-me uma pessoa que todos os partidos tentaram aliciar aos seus quadros. Mas desiludido como estava, recusei-me a envolver-me nas politicas e dediquei o meu tempo a gerir a companhia a qual eu era responsável.

Se não tivesse feito isso teria-me envolvido noutra guerra e graças, ao Gorbachev e Glasnost, estaria de novo a questionar a cause pela qual teria lutado.

A independência encontrou-me como responsável por uma central térmica no Biópio, costa central de Angola. Num relâmpago, tornei-me director técnico, membro da direcção da mesma companhia representando o governo de Angola, delegado do Ministérios da Industria Energia para o centro de Angola, Engenheiro de centrais, Operador de centrais, Guarda Fios, Motorista de camion…basta mencionarem…que eu fiz.

Sendo responsável por uma companhia de produção e distribuição de energia que se estendia por mais de 600 km num país em guerra não pode ser considerado um trabalho estável e seguro.

Possívelmente por causa disso, nunca tive pessoas a aspirar ao meu cargo e posição e pude viver durante 5 anos numa posição de chefia sem ter de lutar contra a inveja, muito comum quando se está no topo.

Durante 5 anos os poucos funcionários qualificados na empresa passaram a vida a correr de um extremo da companhia ao outro a reparar e a arrancar com centrais, reparar linhas aéreas, etc.

Viajando para uma das centrais, com a minha esposa e filha, vimos o carro em frente de nós a ser atingido por um roquete. Na volta tinhamos uma carta no meio da estrada posta delos guerrilheiros da UNITA a pedirem desculpa pelo inconveniente mas a emboscada não era para nós, o pessoal da luz. Pouca sorte para os que morreram.

Em menos de dois anos 90% da industria e agricultura do país parou.

Comida era extremamente dificil de se encontrar, cuidados médicos e escolas quase que não existiam.

Corrupção e mau gerenciamento dos recursos do país eram, e ainda tenho a certeza que o são, uma nota dominante das actividades do dia a dia.

Comerciantes desonestos de todo o mundo aterraram em Angola oferecendo muito dinheiro nos bancos da Suiça em troca de negócios escuros.

Para vos dar uma ideia do que estou a falar, vou descrever alguns desses negócios que eu tive conhecimento:

    •  Angola comprou uma frota grande de máquinas de agricultura (cultivadoras) para serem usados num país onde a agricultura em larga escala não existia. As máquinas apodreceram e foram canibalizadas para peças para outros veículos, os primeios a desaparecer foram os pneus retalhados para fazer sandálias.

    •  A USSR equipou os aeroportos principais situados numa zona equatorial com os últimos modelos de equipamento, incluindo, claro, limpadores de neve para as pistas.

    •  Um barco chegou carregado de champanhe e queijo Camembert quando a população não podia comprar pão e leite nas lojas.

    •  Centenas de bugies da Volkswagens para uso do governo.

    •  Recebi dois geradores movidos com turbinas a gás (10 MW cada), comprados pelo Ministro da Industria e Energia. Os geradores eram da Stall Laval e foi o resultado de um encomenda cancelada por alguém. As unidades vinham com equipamento de queima de gás natural (o centro de Angola não tem gás natural), e a voltagem dos geradores não era compatível com a rede. Avisaram-me para não reclamar muito por razões óbvias.

    •   Pediram-me para encomendar alguns Zeppelins para patrulhar as linhas de alta tensão. Felizmente, consegui convencer o Ministro a não se meter nisso. O fornecedor, um Brasileiro, tinha convencido o Ministro que os Zeppelins eram o meio ideal para áreas sem aeroportos. Uma pessoa só tinha que lançar a âncora e parar o balão quando quizesse descer.

Eu podia ficar a falar disto toda a noite.